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Exploração infantil cresce e expõe a dura realidade do abuso familiar no Brasil.

Casos de abuso infantil crescem no Brasil, revelando que a maior parte acontece dentro de casa.

Exploração infantil cresce e expõe a dura realidade do abuso familiar no Brasil.
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Relatório aponta aumento de quase 19% nas denúncias de crimes de abuso e alerta para a urgência de políticas públicas integradas

O número de denúncias envolvendo crimes de exploração e abuso sexual infantil no Brasil continua em crescimento. Entre janeiro e julho de 2025, foram registradas 49.336 ocorrências de compartilhamento de material de abuso infantil na internet, segundo dados da SaferNet Brasil, organização que atua em cooperação com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O volume representa um aumento de 18,9% em relação ao mesmo período de 2024, evidenciando uma tendência preocupante de agravamento.

Mais do que um fenômeno digital, o problema se enraíza dentro dos lares brasileiros. Estimativas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e do Unicef Brasil indicam que cerca de 85% dos casos de abuso sexual infantil ocorrem no ambiente familiar, envolvendo pais, padrastos, tios ou pessoas próximas à criança. Essa realidade desmente a crença de que o perigo está apenas “lá fora” e revela um ciclo de silêncio e impunidade que dificulta a proteção das vítimas.

 

Internet amplia o alcance do crime

Com o avanço das tecnologias digitais, criminosos têm explorado novas formas de aliciamento e divulgação de conteúdo ilegal. A prática conhecida como grooming — quando adultos manipulam crianças online para fins sexuais — cresce em plataformas de mensagens, redes sociais e jogos on-line.

Relatório da Interpol (2024) aponta que o Brasil está entre os dez países com maior volume de conteúdos de exploração sexual infantil detectados em redes abertas. Parte desse material é produzida de forma doméstica, por meio de coerção psicológica ou violência direta.

A delegada Fernanda Tuccilio, da Polícia Federal, explica que “a facilidade de gravação e compartilhamento via aplicativos torna o controle muito mais complexo. Não se trata apenas de punir, mas de desenvolver uma rede de prevenção, monitoramento e apoio às famílias vulneráveis”.

 

Faixas etárias mais vulneráveis

Segundo dados do Disque 100 e da SaferNet, as crianças entre 5 e 14 anos concentram a maior parte das denúncias de abuso sexual. Já entre os menores de 5 anos, os registros costumam depender de terceiros — professores, vizinhos ou profissionais de saúde —, o que evidencia a importância de capacitar agentes comunitários para identificar sinais de violência.

A psicóloga infantil Rita Guimarães, especialista em trauma e abuso, destaca que “o dano psicológico causado por esses abusos, especialmente quando cometidos por familiares, é profundo e duradouro. Afeta a formação emocional, o desempenho escolar e o desenvolvimento de vínculos afetivos seguros”.

 

Desafios na investigação e na punição

Apesar de avanços legislativos, como o Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016) e a Lei nº 14.344/2022, conhecida como Lei Henry Borel, a estrutura de combate ao abuso ainda é limitada.

Faltam unidades especializadas de polícia cibernética em diversos estados, além de treinamento técnico para conselhos tutelares e profissionais da educação. “Muitas vezes, a denúncia chega, mas o tempo de resposta é lento e as provas digitais se perdem”, relata André Luiz Mendonça, perito em segurança digital.

 

O papel das políticas públicas e da sociedade

Especialistas defendem uma abordagem intersetorial, combinando educação, tecnologia e assistência social. Entre as medidas recomendadas estão:

  • Criação de um Sistema Nacional de Proteção Digital Infantil, integrando plataformas online, órgãos públicos e ONGs para identificar conteúdos ilícitos.

  • Educação digital e emocional nas escolas, ensinando crianças a reconhecer situações de risco e a buscar ajuda.

  • Capacitação obrigatória de professores, conselheiros tutelares e profissionais de saúde para identificar sinais precoces de abuso.

  • Apoio psicológico contínuo a vítimas e famílias, evitando a revitimização durante o processo judicial.

  • Campanhas de comunicação permanentes sobre prevenção e denúncia — como fortalecimento dos canais Disque 100 e Aplicativo Direitos Humanos Brasil.

A coordenadora da Childhood Brasil, Luciana Temer, resume:

“A luta contra a exploração infantil precisa sair da pauta emergencial e se tornar política de Estado. É um problema de segurança, de saúde e de dignidade humana.”

 

Conclusão

O aumento das denúncias não deve ser lido apenas como sinal de crescimento da violência, mas também como reflexo de maior conscientização e confiança nos canais de denúncia. Ainda assim, os números indicam que o Brasil precisa fortalecer urgentemente sua rede de proteção à infância — dentro e fora do ambiente digital.

Proteger crianças é responsabilidade coletiva. Denúncias podem ser feitas anonimamente pelo Disque 100 ou pelo site e aplicativo da SaferNet Brasil.

FONTE/CRÉDITOS: SaferNet Brasil, Ministério dos Direitos Humanos, Agência Brasil, Câmara dos Deputados, UNICEF, Itatiaia (2025).
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