O Brasil vive uma epidemia silenciosa e alarmante de exploração e abuso sexual infantil, que cresce tanto no ambiente digital quanto dentro das casas. Dados recentes da SaferNet Brasil apontam que, de janeiro a julho de 2025, foram registradas 49.336 denúncias de crimes envolvendo material de abuso infantil na internet, um aumento de 18,9% em relação ao mesmo período de 2024. Essas denúncias representam 64% de todas as denúncias cibernéticas feitas no país.
Mas o problema vai muito além da internet. Estudos revelam que 86% dos casos de abuso sexual infantil acontecem dentro do próprio ambiente familiar — uma realidade assustadora que mostra como a vulnerabilidade da criança é ainda maior quando a ameaça está próxima, dentro de casa.
Esse cenário é agravado por fatores sociais complexos, que atingem famílias de todas as classes sociais. Embora a vulnerabilidade econômica possa aumentar os riscos e dificultar o acesso a proteção e denúncia, o problema da exploração infantil é amplo e envolve também questões culturais e estruturais. O sistema patriarcal, por exemplo, reforça desigualdades de poder dentro das famílias, naturaliza a violência e dificulta a quebra do silêncio sobre abusos. Por isso, combater a exploração infantil exige ações integradas que considerem essas múltiplas dimensões, incluindo educação, apoio às vítimas e transformação cultural profunda.
A faixa etária mais vulnerável está entre os 5 e 14 anos, quando a criança depende da família e da escola para proteção, mas ainda não tem autonomia para se defender ou denunciar. Além disso, crianças menores de 5 anos são especialmente frágeis, pois dependem totalmente dos cuidadores.
Um problema que cresce mais rápido que o combate
O avanço da tecnologia oferece novas formas para que criminosos atuem, utilizando redes sociais, jogos online e aplicativos de mensagens para se aproximar das vítimas, prática conhecida como grooming. Ainda assim, especialistas alertam que a estrutura pública para combater esses crimes é frágil, com falta de profissionais capacitados, recursos tecnológicos e campanhas educativas permanentes.
Ao mesmo tempo, o silêncio e o tabu cultural em torno do abuso dentro de casa dificultam a denúncia e o combate efetivo. Muitas crianças têm medo, sentem vergonha ou não sabem que o que sofrem é um crime. Famílias vulneráveis, desestruturadas e fragilizadas emocionalmente aumentam o risco, criando um ambiente onde o abuso pode ocorrer sem ser detectado.
Políticas públicas para mudar essa realidade
Especialistas e organizações defendem a adoção urgente de políticas públicas integradas que considerem a proteção da criança tanto no ambiente digital quanto no familiar, incluindo:
- Criação de um Sistema Nacional de Proteção Digital à Infância, integrando dados entre Polícia Federal, Ministérios e SaferNet para agilizar investigações.
- Educação digital e emocional nas escolas, para que crianças e adolescentes reconheçam situações de risco e saibam denunciar.
- Capacitação de profissionais da educação, saúde e conselhos tutelares para identificar sinais de abuso, incluindo no ambiente familiar.
- Campanhas permanentes de conscientização sobre abuso infantil, rompendo o tabu e estimulando a denúncia.
- Apoio social e psicológico a famílias vulneráveis, combatendo as causas da violência e fortalecendo redes de proteção.
- Punições mais severas e processos judiciais ágeis para quem comete, compartilha ou lucra com exploração infantil.
A luta precisa ser coletiva
O influenciador Felca tem usado sua plataforma para alertar sobre a banalização da sexualização infantil nas redes sociais, mobilizando apoio e debates que saem da internet e cobram ações concretas das autoridades.
Proteger as crianças brasileiras não é apenas responsabilidade das famílias, mas de toda a sociedade — governos, empresas, escolas e meios de comunicação. É urgente que a luta contra a exploração e o abuso sexual infantil seja constante, unificada e corajosa.
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