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A operação mais letal do Rio revela os desafios da segurança pública no Brasil

Confrontos em favelas expõem limites das ações policiais e o contraste com investigações financeiras que envolvem o crime organizado.

A operação mais letal do Rio revela os desafios da segurança pública no Brasil
@brunoitan / Bruno Itan
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A Operação Contenção, realizada nos complexos da Penha e do Alemão, entrou para a história como a mais letal do Rio de Janeiro. Segundo dados oficiais do governo fluminense e informações da Agência Brasil, foram mais de 64 mortos, sendo 60 suspeitos e quatro policiais.
A ação mobilizou cerca de 2.500 agentes das Polícias Civil e Militar, com apoio de blindados, helicópteros e drones, e durou mais de 12 horas.

O governo do estado defende que a operação foi necessária para enfraquecer o Comando Vermelho (CV), facção que controla parte das comunidades e é apontada como responsável por ataques a rodovias.
No entanto, especialistas em segurança pública e coletivos locais avaliam que a ação não desarticulou de forma estrutural a rede do crime, que tende a se reorganizar rapidamente.

Após os confrontos, moradores do Complexo da Penha relataram ter encontrado dezenas de corpos em uma área de mata conhecida como Vacaria, na Serra da Misericórdia.
De acordo com os relatos, ao menos 50 corpos teriam sido levados à Praça São Lucas para reconhecimento — informação que ainda não foi confirmada oficialmente pela Polícia Civil.
O coronel Marcelo de Menezes Nogueira, secretário da Polícia Militar, afirmou que a corporação está verificando a origem e as circunstâncias desses relatos.
O ativista Raull Santiago, do coletivo Papo Reto, declarou:

“Em 36 anos de favela, nunca vi nada parecido. É brutal e violento num nível que a gente nunca viveu.”

 

Especialistas e relatórios da Polícia Federal apontam que grande parte das armas que chegam às facções no Brasil vem do exterior — especialmente dos Estados Unidos, Israel e países da Europa Oriental, por meio de rotas ilegais de contrabando.
As drogas, em sua maioria, são importadas de países da América Latina, entrando no Brasil para distribuição interna.

Enquanto helicópteros sobrevoavam as favelas do Rio, outro tipo de operação acontecia em São Paulo, na Avenida Faria Lima — sem tiros nem confrontos.
Investigações da Polícia Federal e da Receita Federal miram esquemas de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que movimentam bilhões de reais por ano, beneficiando redes criminosas e, indiretamente, facções como o Comando Vermelho.

Estudos do GENI/UFF e do CESeC/Ucam mostram que a economia do crime depende de mecanismos financeiros formais para movimentar grandes quantias sem despertar suspeitas.
A pesquisadora Julita Lemgruber resume:

“As armas entram pelas favelas, mas o dinheiro sai pelos bancos.”

 

Ao contrário das operações nas favelas, as ações financeiras envolvem prisões temporárias, delações e acordos de leniência — sem confrontos nem mortes —, apesar de movimentarem valores muito superiores aos do tráfico de drogas.

A Operação Contenção reacende o debate sobre os limites do uso da força em áreas densamente povoadas e a seletividade do Estado ao lidar com o crime.
Enquanto nas comunidades o combate é feito com fuzis e blindados, nos centros financeiros o Estado atua com planilhas e acordos jurídicos.
Especialistas e ativistas apontam que o contraste evidencia dois Brasis coexistindo:
um armado e exposto, outro discreto e blindado — ambos ligados pelo mesmo desafio: o combate ao crime organizado ainda sem soluções estruturais.

A operação no Rio evidencia a face mais visível e sangrenta do combate ao crime, mas também escancara a engrenagem financeira que mantém viva a economia ilícita.
Enquanto o Estado se faz presente nas favelas com tanques e armas, nas salas envidraçadas da Faria Lima atua com cafés, consultorias e leniência.

A violência muda de forma e de CEP , mas segue sendo o idioma comum entre poder, lucro e impunidade.

FONTE/CRÉDITOS: Agência Brasil; Polícia Civil e Militar do Rio de Janeiro; Coletivo Papo Reto / Raull Santiago; GENI/UFF; CESeC/Ucam; Polícia Federal; Ministério Público Federal
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